A dura tarefa de economizar dinheiro viajando_ parte 1

“- Roberta, adoro as suas histórias, digo, não! Não adoro as histórias, adoro o jeito como você conta as histórias. Não queria que tivesse acontecido, por outro lado, que bom que aconteceu, assim você se fortaleceu, quero dizer, enfim… continue escrevendo, Ro”. 

Esse é o tipo de comentário que venho ouvindo a respeito das histórias que conto aqui.  As sensações se confundem pra você, mas, acredite, se confundem pra mim também. Por um lado queria que a temporada que passei na Irlanda tivesse sido easy, como é pra algumas pessoas que moram e são felizes lá;  por outro, se tivesse sido assim fácil eu não teria mudado de ideia, ido viajar e tido o melhor ano da minha vida ao redor da Europa. E muito provavelmente não estivesse escrevendo aqui agora.

Afinal, a foto é só uma foto se não tiver uma boa história por trás.

Portanto, agradeço à você e às pessoas que estão gostando dos perrengues, quero dizer, das histórias, melhor dizendo, não bem das histórias. 🙂 

Vou aproveitar o clima de gratidão, deixar a morbidez um pouco de lado (um pouquinho, só por hora, rs) e matar a curiosidade de muitas pessoas que me perguntam como me mantive financeiramente durante um ano no Exterior, curtindo e sem trabalhar. Para fazer isso é claro que você precisa ter uma grana em caixa, mas também é preciso conhecer certas técnicas que te fazem economizar seus recursos. Uma delas é a pauta para o post de hoje, visto pela minha perspectiva.

Joselita com dinheiro contado

“-Viajar não é gastar, é investir.”

Não sei de quem é essa frase, mas acredito plenamente em seu significado, só que às vezes a vontade de viajar é muita e o dinheiro é pouco. Assim como qualquer pessoa normal eu também amaria me hospedar no Sheraton, passear pela cidade com um guia particular e jantar nos restaurantes do guia Michelin, mas a verdade é que sou uma publicitária falida. Todas as viagens que fiz pelo Brasil e América do Sul sempre foram com verba pequena, e o mochilão na Europa não seria diferente. Sendo essa a minha realidade, fiz o que deveria: planejei, calculei meus passos, agi sempre com antecipação, escolhi os países mais baratos pra conhecer, deixei outros de lado e no final deu tudo certo.

Óbvio que não.

Claro que não.

Quando deixei Dublin eu não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Essas coisas de planejar, tomar nota, fazer contas, ser racional, não são traços da minha personalidade e te garanto que ninguém muda da noite pro dia, não senhor. Eu sabia que se quisesse chegar até o final do ano viajando, sem trabalhar, eu teria que poupar o dinheiro que tinha, todas as minhas economias do trabalho como motorista de Rick Shaw. Logo, precisava descobrir como fazer isso.

Em tempo: não aconselho ninguém a viajar pelo continente que for sem o mínimo de planejamento, como eu fiz. Ok, isso me fez viver muitas aventuras legais, mas também me pôs em risco várias vezes e me meteu em roubadas homéricas. Portanto, fica a dica.

Turismo colaborativo 

Em uma bela noite de frio menos 5 graus e garoa gelada em Dublin, dei carona no meu Rick Shaw para dois rapazes da Espanha. Conversamos durante o percurso sobre os motivos de estarmos ali, de que cidade éramos, onde eles podiam beber barato, enfim, papo jogado fora. Quando os desembarquei na frente de um bar, eles já sabiam que eu pensava em ir embora de Dublin. Um deles me contou sobre sua experiência super econômica de ter viajado como turista para Londres e ter trabalhado em um hotel, recebendo em troca alimentação e moradia.

“Dá uma procurada no site World Packers, tem muitas opções pra Espanha!” – Ele gritou um pouco antes de entrar no bar.  

Eu nunca havia ouvido falar sobre isso, um turista trabalhando em troca de comida e cama, sem estar infringindo nenhuma Lei.

Acessei o site, fiz pesquisa, procurei referências, recomendações e, ao final de uma semana, estava perita no que as pessoas chamam de Turismo Colaborativo. Vou resumir pra você:

O turista ao entrar num país, recebe em seu passaporte um carimbo que funciona como um visto temporário para visitar aquele lugar; o tempo de permanência vai variar de acordo com a nacionalidade. Nós, brasileiros, com nosso passaporte azul sem dupla cidadania – que é o meu caso- podemos viajar pela Europa por 3 meses. De acordo com as Leis, não podemos exercer nenhuma função remunerada, porque não temos visto de trabalho.

Algum esperto, sabe-se lá quando, descobriu que essa Lei não se aplica quando a forma de “remuneração” pelo trabalho não é moeda corrente. Nesse caso, o turista pode exercer atividades variadas e receber como forma de pagamento alimentação, roupas, moradia, passeios gratuitos, etc. Qualquer coisa que não seja dinheiro vivo. O carimbo vai continuar sendo o mesmo, o tempo de permanência de 3 meses também, a única diferença é que o turista vai dedicar algumas horas do seu dia a fazer algum trabalho para aquele que aceitar recebê-lo, o chamado anfitrião.

O site World Packers que o menino espanhol indicou é somente um dos que funcionam super bem para o turismo colaborativo. O famoso Work Away oferece todo tipo de propostas para professores temporários de idiomas, alguém que brinque com as crianças, motoristas para pessoas de idade, cuidadores de cachorro, etc.  Há também o WWOOF,  que em minha opinião é o mais interessante de todos. Nele, estão cadastradas fazendas  do mundo inteiro a procura de mão de obra. Tentei algumas propostas, mas as datas eram incompatíveis. Um dia tentarei de novo.

Além de economizar uma graninha ou uma super grana, dependendo do caso, o turismo colaborativo permite a prática de idiomas, te faz conviver com gente do mundo todo, te faz ter sempre companhia pra sair, o que é legal quando se viaja sozinho; e no mais, você sempre aprenderá alguma coisa nova, sempre.

Em qualquer um deles, você preenche um perfil, se cadastra, paga a taxa de uso da plataforma que gira em torno de 50, 60 euros, por determinado tempo de uso, e pronto, já pode começar a buscar alguém pra te receber, que ofereça as vantagens que você deseja, ou que valha a pena por alguma outra razão. A comunicação se dá pela plataforma mesmo e depois de acertados os termos, você se apresentará no local e na data combinados. Só um detalhe importante, caro leitor, caso você já esteja fazendo as malas: as despesas são por sua conta, ok? Passagens, seguro de viagem, seguro-médico se precisar, etc. O anfitrião não tem nada a ver com os gastos da viagem. 

Optei por usar o World Packers que, além de ser todo em português, tinha as opções mais relacionadas com meu perfil. Cá entre nós, eu não queria aceitar nada em casa de família; torna-se um trabalho muito particular no meu ponto de vista, especialmente se tem animais ou crianças envolvidas- depois você acaba se apegando e precisa ir embora. Por isso, optei pelos Hostels ou projetos semelhantes que necessitam de pessoas na recepção, na limpeza, na arrumação das camas, especialmente na alta temporada. Os benefícios oferecidos eram variados, dependia do porte e da qualidade do lugar. Havia com pensão completa, café da manhã, almoço, jantar. Às vezes só uma refeição e a cama free. O quarto podia ser privado ou coletivo com outro membros da equipe. Ofereciam uma ou duas folgas na semana. Jornada de 4, 6 ou 8 (:O) horas de trabalho, experiências para uma semana, um mês, três meses…Enfim, tinha de tudo. 

Pra mim, tudo isso pareceu uma ótima ideia. Como eu estava decidindo pra onde ir, buscava inúmeras cidades pra checar as opções de trabalho e as vantagens oferecidas para a data que eu precisava: fevereiro de 2017, por aproximadamente 15 dias. Das opções que apareceram, escolhi a Espanha. E finalmente disse sim ao meu primeiro trabalho colaborativo.  Depois dele, eu decidiria o que fazer. Um passo de cada vez. 

Por hora, posso adiantar que fiz 6 trabalhos durante a viagem, sendo 3 na Espanha, um na Bélgica, um na Bósnia e um, por curtíssimo tempo, na Croácia. Algumas experiências foram boas, outras razoáveis, uma delas foi muito ruim. Em breve, contarei tudo pra você aqui.

Muitas pessoas criticam esse tipo de relação dizendo que é malandragem dos gringos,  que oferecem trabalho escravo etc. Eu digo o seguinte: ninguém te força a fazer turismo colaborativo. A decisão de participar é sua, ninguém te obriga a ir e mais, ninguém te obriga a ficar caso você não esteja gostando. As portas estão sempre abertas pra você mudar de ideia e partir. Meu objetivo era economizar, praticar idiomas, conhecer gente com a mesma vibe que a minha. Essas experiências me ofereceram isso, portanto, não tenho nada do que reclamar.  Nem mesmo da tarântula gigante que morava dentro do box, no banheiro que eu usava. Aquela era a casa dela, eu era a gringa que estava invadindo. Mas isso é uma outra história…

E você, o que pensa desse tipo de “trabalho”? Já fez algo parecido? Saiba que é algo muito utilizado no Brasil também, em todas as cidades onde a concentração de turistas é alta. Se algum dia você for se aventurar por aí, apenas te aconselho a pesar bem os prós e contras, a pesar bem a responsabilidade do trabalho, as vantagens, o tempo que você deverá ficar e, claro, ter sempre um plano B, caso algo dê errado.

No próximo post vou falar sobre pessoas que recebem estrangeiros em casa, de graça, sem pedir absolutamente nada, apenas pelo prazer da companhia e pela troca de cultura. Parece surreal, mas foi assim que fui pra Suíça, um dos lugares mais caros do mundo e dos mais receptivos também.      

Fica comigo. 

 

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Primeiro trabalho- Galícia, Espanha: Janis Joplin e seu filho Yoyo

 

 

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Segundo trabalho- Utiel, Espanha: vista do meu quarto
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Terceiro trabalho- Málaga, Espanha: A melhor parte do dia
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Quarto trabalho- Louvaine, Bélgica: Amigos eternos

 

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Quinto trabalho- Mostar, Bósnia: Hóspedes e confraternização
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Sexto trabalho- Zadar, Croácia: Jardinagem e festividades

 

 

 

   

 

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